Natureza Morta

Germinam em terra fértil  indiferenças diversas

O tempo encarrega-se do devir funesto

Quando penso colher repouso infinito em teu colo

Logo a flor do amor se põe tão seca ao solo

Esquizostética

Sonhava dormindo

Que possuia um jardim de imagens
E colhia closes de pessoas que nunca vi

Sonhava acordado

Capturar cada frame desse sonho
E fazer um filme em edição não-linear

Armeiro Literário

Abdicar da boca
Ler um bocado
Não digo alto
Mas digo alterado

Venho pela escrita
Pode me difamar
Alter ego caprichoso
Hora de açoitar

Letras com serifa
Pontos de exclamação
Ene, a, o e til
Trema por conclusão

Agosto

Todo mês de agosto
Me resta apenas 01 dia

Aquele perfume não era esgoto

Logo vem setembro
Ela seria primavera

Olhos rubros do momento

Térreo

Naquelas noites reviradas
Nas tardes de angústia
Em toda comunicação truncada
Sempre que o elevador para

Penso que devo sonhar
Aumejar a distância
Fugir da ignorância
Ser um belo rapaz

Quando acaba o dinheiro
Ao sentar no banheiro
Na volta pra casa
No decorrer da desgraça

Procuro a realidade
A moralidade
Fugir da cidade
Retomar o que ficou para trás

Mas só há um lugar
Onde o sonho não fita
Onde o pesadelo não grita
Só o térreo me faz descansar

Nuvem

Cinzas chumbo
Ariados sofrimentos
Atmosfera índigo
Vagos tormentos


Natural divisor
Acima da terra
Fera purgatória
Entorna do céu

Uivos cíclicos
Dúvida apraz
Cirrose gigantesca
Raios! Deixem-me em paz!

Bandeirante

Nessa trilha mal aberta
Sentinela em alerta
O propósito asceta
No limiar da jogada

De armadura sigo
Ao predicar intenções
Coração: estandarte
Na outra mão a razão

Defesa reforçada
Atacando sem parar
perde-se umas batalhas
para a guerra ganhar

Misantropia

Natureza codificada
Pelos olhos de um mizaru.
O que me resta
Desse dia-a-dia?

Ficar demente,
Tamanho desgosto.
Egocêntrica agonia.

Em Guarda!

Se fosse época de inquisição
Seria mais um torturado
Que arde em ode a tradição
Ou declina quando enclausurado

Quem sabe na Lua
Quando lá tiver rua
Fuja da doutrina
E descubra doutrinar

Se não destruído
Doente, Doido, Banido
Mocinho, tolo bandido
Novo revolucionar

Work in Process

Olho ao infinito e não vejo o fim
talvez queira repetir os planos
Ou somente algo que inove a dor
Um filme sem final

Atuam nesse filme tantas estrelas
Mesmo a agonia final da cadente
Um don sem precedente
Pode te eternizar

Só quero é ter meu coração latente
Ao deixar você acesa
Quando a projeção encerrar

Estado Novo

Viver em plena glória
Sob um espirito tal
Declarando centro de órbita
minha cidade Natal

Sem compatriotas, nem capital
Sem padroeiro, sem bandeira
Intenções meramente curriqueiras
de uma fantasia quase real

Cismado Coração

Onde está meu coração
Que não dentro de seu leito
Eu possuo esse direito
Vou contar

Por caridade eu receito
Tire-o de dentro do peito
Carregue-o em outro lugar

Vezes pela cintura
Vezes na ponta dos pés
Vezes pela cabeça
Vezes sendo o que és

Todos os versos acima
Soam como navalha
São uma merda de cisma
Tarda, mas nunca falha

Sonho

Economizarei minha fortuna
Pois não me pertence
Ela é dos séculos
Transmitida aos escolhidos

Minha riqueza não pesa
Não tem medida real
Só vejo de olhos fechados

Tormenta

Poderia ter tido outra sorte!
Mas não, insistiu cair no mar enquanto naufragava.
A imagem mais fascinante de uma vida, é um erro da natureza.
50 metros e eu ganhava a passagem de volta em uma viagem relâmpago.

Mas tudo bem, vou envelhecendo um dia de cada vez....
Até que a milhagem seja suficiente para partir.

Por enquanto euforias e tristezas
Contas, viagens, tarefas
Muitos Abraços
Alguns Beijos
E insuficientes noites de sexo

Carnaval

Entre a multidão
Espero por tua boca
Para sentir suado
O quanto me desejas

Pena já ter coleira
Pena querer colar
debaixo de tuas penas
Quero é te desfantasiar

Segue o bloco no desfile
sambamos pra bebemorar
azar é tamanha brasa
ter prazo pra terminar

Bolsa de Valores

Invisto:
Em silêncio
Em poucos atritos
Em idéias abstratas
Em bolhas de sabão

Sólido mesmo só a fome
Sólido mesmo só o frio
Sólido mesmo só eu
Em completa solidão

Obstrução Temporal

Peguei-me diante do espelho
Encarando nos olhos o reflexo
De algo que insiste ser

Naqueles olhos vi de tudo
Só não me encontrei
Perdido entre vontades
Impotente em escolher

Avistei novos rumos
O girar novamente da ampulheta
Porém mantenho-me igneo
Dificultando a passagem da areia